terça-feira, 27 de julho de 2010

full moon

pouso a minha cabeça na almofada e fecho os olhos. sinto o calor que espalhas por toda esta divisão. sinto o teu peso baixar o colchão enquanto a tua mão se aproxima e me põe uma madeixa de cabelo para trás da orelha. abro um bocado o olho e vejo-te a olhar para mim, doce e ternamente. «amo-te, amo-te» sussurro, «mas não achas que está na hora de entrar no paraíso de sonhos?»; «para quê? tu própria já o és».
a tua mão percorre-me a bochecha para cima e para baixo, e a tua pele é como se fosse feita de seda, como pele de um bebé. o teu toque relaxa-me tanto que fico com demasiado sono, e acabo por adormecer. acordo a meio da noite, e continuas virado para mim, com o teu braço por cima do meu corpo - como se estivesses sempre pronto a proteger-me de tudo e de todos. olho para ti: as tuas pestanas, o teu cabelo preto, o teu nariz, os teus lábios, as tuas orelhas. é tudo perfeito. mas nem só o exterior, porque eu amo-te a ti e ao teu coração, porque ele é a coisa mais pura que eu conheço.
tiro a minha mão de debaixo dos lençóis de flanela e faço com que troquemos de funções: agora quem te vangloria sou eu. com o dedo indicador toco nos teus lábios e passo-o também no teu pescoço, mas entretanto tu acordas e sorris, ainda com os olhos fechados. agarras a minha mão e beija-la «mas tu não dormes?» e adormeces de seguida. aproveito o momento com o teu corpo adormecido e admiro a tua silhueta que se distingue nos lençóis: mais uma vez, e para não mudar muito, perfeita.
de repente, abro os olhos. toco com a mão no meu lado esquerdo, mas a almofada está vazia. chamo por ti; nada.
foges-me por entre as mãos como os grãos de areia? ou simplesmente amas-me aos bocadinhos?
sabes, eu não te fujo. e os bocadinhos pelos quais te vou amando servem para me preencher todo o coração. ele é teu, todo e completamente teu.
levanto-me e calço os meus chinelos, e sinto algo que me magoa dentro deles. um papel arrancado de um caderno meu onde costumo escrever para ti e por ti, com o seguinte:
«princesa, tu és a minha alma gémea. sempre te disse isso. e esta não é a altura do adeus, não penses isso. porque essa altura nunca irá chegar, prometo-te. mas hoje tive de te deixar desprotegida um bocadinho mais cedo, espero que não te importes. dentro de poucas horas voltarei para te abraçar e beijar como sempre te faço. para te compensar, vou trazer uma tulipa para ti. eu sei que gostas muito de tulipas. amo-te sempre e a todas horas, amo-te quando a maré baixa e quando sobe; amo-te ao nascer e pôr-do-sol. mas sinto ainda que te amo mais nas noites de lua cheia, tal como foi a de hoje. faz tempo que não havia uma lua cheia tão linda como aquela... e espero que tenhas gostado de a ver na minha companhia. é que agora, ela vai passar a ser o nosso símbolo, está bem? quando estivermos longe podemos olhar para ela... e saber que pensamos um no outro. apesar de eu saber que em todas as luas cheias vamos estar juntos. beijo»


gosto de ti assim, sim. gosto de ti dessa maneira tão enorme que estás a pensar*

terça-feira, 20 de julho de 2010

perto de ti?

estou agora aqui sentada, numa praia só minha, com os pés a serem cobertos pela água do mar. são sete da tarde, e não está aqui mais ninguém para além de mim e das gaivotas. as ondas rebentam nas rochas da paredão e fazem um barulho magnífico, que com o som das gaivotas se torna perfeito.
vem uma brisa do mar que me arrasta o cabelo para as costas: é pura, faz-me sentir mais nova, rejuvenescida. estou embrulhada na minha toalha enquanto escrevo estas palavras e o meu coração está preenchido; o lado esquerdo do meu peito não tem espaços vazios mas mesmo assim... eu não me sinto completa por todo. a pessoa mais importante da minha vida, a qual amo por mim e por todas as pessoas que se possam imaginar, a que é mais de 75% do meu corpo, está a mil e uma distâncias de mim. é que este momento era perfeito para ti e para mim, não achas? um areal inteiro para nós, para caminharmos à beira-mar de mãos-dadas; um mar inteiro por nossa conta para nos amarmos por cada gota de água salgada e para saborearmos a sua baixa temperatura.

agora a maré já está a subir, e o mar começa a chegar-me perto dos joelhos, e eu continuo aqui... à espera que as minhas palavras formem uma tempestade que te traga para mim. como se isso fosse possível.
sabes o que era mesmo perfeito neste momento? sentir a tua mão no meu ombro, ou um sussurro teu no meu ouvido. mas não vale a pena continuar a pensar nisto. agora, vou embrulhar esta carta com uma tulipa e vou deixá-la aqui, exactamente onde estou, com a esperança de que o mar eternize o que aqui digo: o meu amor por ti, o quanto sinto a tua falta quando não posso falar contigo, o quanto é injusto não poder estar contigo a todos os segundos. talvez ele veja as circunstâncias... e te traga até aqui.


meu amor, sabes que te amo para sempre, não sabes?

terça-feira, 13 de julho de 2010

botão de rosa

às vezes sentimos os pés se descolarem do chão,
são simples ilusões.
mas pelo menos uma vez em cada eternidade
eles descolam junto do corpo
até depois das nuvens,
onde nenhum coração jamais baterá.

caímos indefesos de joelhos no chão. as mãos agarram a garganta onde se notam todos os nervos, como se procurássemos uma última gota de oxigénio. as forças desaparecem e sentimos um arrepio no fundo das costas.
uma dor insuportável aparece na ponta dos dedos dos pés e estende-se até à cabeça; as mãos passam rapidamente da garganta para o cabelo, puxando-o. as cordas vocais são forçadas a gritar, mas não sai um único som do nosso corpo. os olhos abrem-se de uma forma louca e quase que saem das suas órbitas ao mesmo tempo que o nosso coração bate freneticamente tentando perfurar as nossas costelas e rasgar o nosso peito para poder vir cá para fora e gritar por socorro.
as últimas forças chegam por milagre, e conseguimos-nos levantar, pegar numa faca e, com toda a coragem, espeta-la no lado esquerdo do nosso peito, roubando os últimos batimentos contínuos do nosso órgão propulsor. tudo pára - o sangue deixa de circular, nós ficamos deitados no chão, sem cor nos olhos, pálidos;
mas, mais importante que tudo... a dor acaba. o sofrimento chega ao fim, e nós sorrimos (de uma forma pura mas ao mesmo tempo irónica), deixando de sentir tudo e passando a sentir nada.
o frasco roxo catalogado com uma caveira continua em cima da mesa e um papel de despedida está debaixo de si, à espera de ser lido por quem quer que seja.
mas quem se lembraria da existência de quem não ama?
quem sentirá saudade de quem não conhece?
de repente, um botão de rosa abre-se - estando nós a meio da noite -, e as luzes da cozinha ficam acesas, apesar de piscarem. uma alma foge daqui e retoma a sua vida noutro sítio qualquer.
um corpo encharca todo o chão de um líquido vermelho e esse mesmo corpo deixa de ter essência alguma.
não será melhor assim do que viver a solidão com unhas e dentes?

(fotografia da minha autoria)

domingo, 11 de julho de 2010

luv

«casa comigo»
«um dia, sim»

às vezes apetece negar para sempre só para poder ter o prazer de ouvir aquela frase - casa comigo - muitas e muitas vezes. não é tão bom pensar que alguém quer partilhar connosco uma vida? que quer passar todos os bons e maus momentos connosco? que está disposto a aturar os nossos amuos, as nossas birras, as nossas más-disposições, dores de cabeça, faltas de paciência, e outras tantas coisas que tiram a cor aos nossos dias? é bom ter a certeza que essa pessoa quer-nos dar todo o carinho, todo o amor, toda a atenção, todos os mimos, tudo o que quisermos, sem o pedirmos. por isso deixem-me negar só para poder decorar o movimentos dos lábios a perguntar, o brilho dos olhos, as feições; deixem-me decorar quantas batidas o meu coração dá quando ouço aquelas palavras, quantas vezes me apetece dizer sim, sim, e sim!
quando nos fazem a tal pergunta só queremos fazê-lo parar e perguntar: podes repetir?

é difícil acreditar que essa pessoa, a tal, quer ficar connosco para sempre. que tudo o que é bom no mundo está para acontecer. e quando um dia - ou logo no dia - decidimos que é hora de dizer a verdade, sentimos todas as estrelas do espaço colidirem umas com as outras, sentimos o nosso coração bombear mais sangue do que o costume, o nosso cérebro dá cliques, as lágrimas vêem-nos aos olhos, não paramos de tremer, as ondas do mar tornam-se tão fortes que são capazes de mudar o sentido da maré, e tudo apenas porque alguém muito especial nos deseja da forma mais bonita do mundo. tudo por isso. a nossa cara metade quer sempre completar o puzzle, juntar as últimas duas peças, porque quer o mais depressa possível ganhar o primeiro prémio - amor eterno.
mas antes de tudo há que ter calma, certezas e paciência, porque não estamos a falar de uma cerimónia qualquer: é algo que tem de ser feito com amor, muito amor. é que é aí em que duas almas se abraçam, dão as mãos, e caminham por um infinito imenso, como se aquilo fosse apenas um bilhete de ida para a felicidade, sem regresso.
«marry me, Bella.» - quem não se lembra?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

vá, olha pra mim

estás a ver agora a minha cara? estás? não. não tens sequer coragem de olhar para mim, quanto mais para os meus olhos. tens medo, eu sei. tens medo que eles te façam fraquejar e te aproximem demais de mim. é isso, não é? mas digo-te... realmente é bom que tenhas medo. pois a profundidade com que eles olham para ti é a mesma com que olham o sol e a lua. porque tu és tudo e mais que tudo para mim.
mas eu também receio que me olhes. não tenho a certeza que expressão devo esperar de ti, sabes? é que neste momento, as lágrimas escorrem-me pela cara e eu sinto o seu sal nos meus lábios. não as consigo fazer parar, como se os meus olhos fossem um riacho e tu fosses o senhor de todas as águas. porque és tu e o facto de não quereres olhar para mim que me deixa assim: vazia.
agarras-me a mão e segues as linhas da palma, e nos sítios onde tocas deixas linhas de fogo, e vais marcando caminho. o teu toque deixa-me cicatrizes.
vejo uma lágrima tua cair-me nas mãos, e junto-as. junto também as minhas lágrimas às tuas lágrimas, e deixo-as secar.
será que te posso juntar a mim para podermos secar como as sementes e, assim, amadurecermos juntos? talvez os nossos ramos se cruzem. mas peço-te: olha para mim, agora. não percas tempo. preciso de dizer que te amo antes que te vás embora e me deixes aqui.
but, wherever you'll go, I'll be there, my love. my forever love.

tens um espacinho para mim na tua mala de viagem? por mais mínimo que seja, eu adapto-me. tudo por ti, meu amor. porque apenas tu consegues parar o riacho, e mudar o sentido da maré.
leva-me para todos os sítios que fores, como teu amuleto. levas-me? dá-me outra vez a mão, e deixa-me desenhar nela alguma coisa. uma coisa qualquer... algo que te faça lembrar de mim. porque sabes, eu não tenho nada.
minto, eu tenho uma coisa: o meu amor por ti. mas isso eu não posso dar-te, porque é o que me faz viver.
depois de te deixar essa recordação, eu prometo que me vou embora. agora, dá-me a tua mão.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

a partida

enquanto estou aqui sentada... sinto-me perdida. não que não saiba onde estou ou onde devo ir daqui a pouco, mas sinto-me perdida, despegada do mundo, sozinha. os meus pés não estão bem assentes do chão, e a gravidade tenta-me levar para longe. mas faço-me forte e tento manter-me no chão, com muito esforço. os meus dedos voam e eu vou escrevendo sem saber onde é que todas estas palavras me irão levar; talvez nem mudem nada. os meus olhos estão encharcados, e as lágrimas descem-me pelas faces até ficarem marcadas no papel. tenho a certeza de que amanhã estão ainda aqui marcadas, como numa praia cheia de pegadas por onde o vento não passa - são de uma dor invísivel durante o dia, bem visível à noite. uma dor diferente de todas as outras? não sei, nunca ninguém me contou se alguma vez se sentiu assim. mas neste momento prefiro não pensar nisso.
o meu coração não bate a mil à hora... bate a mil por segundo. sinto-o a querer fugir do peito, a ser empurrado pelos meus órgãos para a garganta. as pernas tremem mais do que se estivessem 10 graus negativos e eu sinto a alma fugir-me do corpo. o que é isto? as minhas entranhas moem-se umas nas outras, e começo a desfazer-me em pó. onde estou agora? sinto-me a voar.
o vento seca-me as lágrimas e eu já não sinto os meus pés. a gravidade desapareceu sem eu dar conta, e agora não tenho forças que me levem de novo para a terra. o meu peso desapareceu, e sinto-me mais leve que uma pena. grito. por socorro, ou por dor, não sei. agora confundo as duas coisas. mas continuo a gritar, e não ouço a minha própria voz. não vejo os meus braços, as minhas pernas, os meus pés, o meu corpo... não vejo. mas vejo as minhas mãos a derreterem os meus pensamentos no papel. e agora

que sítio é este? agora sim, ouço a minha voz, e ela soa-me melancólica, como se ao falar eu canta-se. esvoaço pelas nuvens e possuo umas vestes brancas de seda.
foi a minha hora.
e agora é por mim que choram, lá em baixo.

uma alma perdida na viagem para o infinito... sem regresso.