domingo, 28 de agosto de 2011

fear of losing

O meu maior defeito é ter medo. Não digo que seja o pior, mas é o que mais atenua todo o meu corpo. Sinto-o apertar-me as entranhas e encher-me os olhos de lágrimas, empurrando-as para fora sem qualquer pudor. Ele toma conta de mim como se fosse minha mãe, não me dando espaço para me mexer ou tomar as minhas próprias decisões; por vezes, é como um monstro que está dentro de mim e que me obriga a fazer aquilo que não quero. E o meu maior medo é perder-te: deixar de saber de ti e dos teus, de nós e do que fomos, como se tivesse queimado o livro da nossa história que ainda nem sequer acabou de ser escrito. Por ser o meu maior medo, faz também parte dos meus pesadelos, aqueles que me assolam o juízo durante as noites em que não consigo controlar os sonhos e que me mostram um possível caminho da minha vida - o qual tenho evitado durante toda a minha vida, e assim continuará a ser. Se algum dia, quando a idade já tiver avançado, eu esquecer que alguma vez persististe na minha vida, esse terá sido o último. Posso perdurar mais meses e anos, mas a partir daí, já nada fará sentido, e eu não saberei porquê. Mas ter-te-ei sempre guardado num cantinho do meu ente, na gaveta dos fundos em que ninguém toca e que poucos sabem que existe, nunca lhe remexendo ou retirando-lhe coisas, visto que todos os pormenores que lá estão são importantes e fazem parte de tudo o que passámos e iremos passar. Mas de morrer não tenho medo, porque saberei que lá não terei de ter medo de absolutamente nada.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

something which we can call nothing

Vou caminhando por entre todas essas ruas à espera de pressentir. Não de te ver ou de te ouvir, mas apenas de sentir que estás ali. Há um laço entre nós que é mais forte do que tudo que se possa imaginar. Liga-nos com tal força como a que separa o azeite da água - é impossível penetrá-la.
O sol está prestes a pôr-se, e desde de manhã que não houve sinal algum de que cá estivesses. Se tivesses morrido, eu tê-lo-ia sentido como se morresse também: até porque parte de mim - o meu coração - teria morrido contigo. Estás vivo e à minha espera, sabendo que não vale a pena te esconderes porque, seja de que forma for, eu vou-te encontrar. É estranho quando o mundo inteiro parece estar contra nós, não é? Parece que o destino se contraria a ele próprio; tanto nos quer juntos, como faz de tudo para que nos separemos. Ainda não percebi bem o que se passou. Foste-te embora com esperanças de encontrar uma nova vida sabendo que a que tínhamos era quase perfeita. Tentaste adaptar-te a novos ambientes e saíste destes a sangrar... mas isto porque me feriste a alma. Quem és tu sem mim? Quem sou eu sem ti? Somos duas peças diferentes do puzzle, mas que se completam - diferentes mas, apesar de tudo, iguais. Apenas procuramos encontrar-nos um ao outro, não interessando que caminhos seguiremos. Ambos sabemos que todos os caminhos irão dar às mãos um do outro. E é por isso que não entendo porque teimas em afastar-te. Sei que me amas, mas tudo isto é para quê, para me proteger? Se sabes que contigo todo o mal que possa acontecer é do tamanho da chama de um fósforo no meio de um incêndio de uma casa?
Sinto-te perto, quase a tocar-me. Rapidamente olho para todos os lados com o coração a palpitar, mas não te vejo. O sol foi substituído pela Lua, que agora brilha e me ofusca os olhos, acariciando-me a pele com a sua luz. Tu e eu sempre gostámos dela, e acho que é isso que me faz sentir-te aqui. Mas há algo. Tu estás aqui de uma forma diferente. E, como se tudo se tratasse de um filme, tu apareces ali e simplesmente beijas-me. Dás-me as mãos e começas a caminhar no nada; ou melhor, começas a voar. Levas-me contigo até à Lua, e lá continuas a transmitir-me amor, mas agora telepaticamente. E é aí que percebo. O nosso amor possível e impossível matou as nossas almas de uma forma limpa: deu-nos bilhete apenas de ida, de graça, para o paraíso, o ponto de encontro daqueles que não merecem viver no mundo real porque este é demasiado perigoso para a sinceridade que vai nos seus corações. O medo que lá sentíamos levava-nos a ter escolhas erradas e a fugir inconscientemente. E por isso, algo sem nome transportou-nos para aqui e ofereceu-nos a eternidade de nuvens cor-de-rosa. Toda reservada ao sentimento mais puro do universo, residente habitual deste local inimaginável mas existente.


terça-feira, 9 de agosto de 2011

preto e branco

Às vezes começo a pensar que qualquer dia farto-me de viver. É tão difícil enfrentar o dia-a-dia sem te ter a meu lado, sem ter um ombro para me reconfortar, sei lá. As coisas têm estado diferentes. E, apesar de eu saber que nunca te vou perder, a minha vida passou a ser a preto e branco já há quase 10 meses. Parece que a cada segundo que passa o Céu está cada vez mais longe, e com ele estás tu. Como pode ser o nosso viver tão injusto? Não se nos deve tirar a pessoa mais importante da nossa vida de perto de nós como se tira uma guloseima a uma criança só porque ela come demais. É que esse acto é precioso para a sua saúde, mas o qual referi primeiro é prejudicial. E muito.
Talvez eu estivesse mal habituada - podia ter-te ali, num piscar de olhos, a meu lado. Podia pedir-te carinho, podia pedir-te ajuda, compreensão, gargalhadas e tantas outras coisas. Continuas a dar-me tudo isso, mas nada é o mesmo. E eu sinto falta de te poder ter a toda a hora. Creio não estar a ser injusta... O teu coração moldou-me. Tenho culpa de necessitar do meu criador para conseguir ser realmente feliz? É facto: a minha vida precisa de um abanão ainda maior do que o que já levou faz tempo. Voltas?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

someone, something.


O teu olhar consome-me e leva-me a um lugar onde nunca estive. O teu ar desapegado e desprovido do mundo atrai-me a ti, como se não conseguisse olhar para mais ninguém. E quando te toco na face, mostras-me um meio-sorriso que já há muito eu conhecia dos meus sonhos. O facto de me pareceres diferente de todas as outras pessoas faz-me ter ainda mais vontade de estar abraçada a ti, num para sempre infinito, onde ninguém mais conseguiria penetrar no nosso vínculo afectivo.
Aos olhos da maior parte das pessoas és invisível, mas aos meus não. Existe algo, um algo que não faço a mínima ideia do que seja que me faz sempre olhar para ti, como se fosses um Deus apenas meu. Talvez seja uma relação destas que eu necessite. Talvez seja de ti. Pode ser uma loucura, até porque tu não existes realmente. Mas seres assim, um ser um pouco à deriva, demasiado preocupado e... estranho, faz com que eu seja tua seguidora. Como se existisse algo que me começasse a ligar a ti ao longo do tempo e eu nem desse conta. E agora torno-me, tal como tu, invisível aos olhos dos outros; e assim ninguém nos nota, ninguém se apercebe da nossa existência. E é isso necessário? Não. Se te tenho a ti, que mais hei-de eu pedir?