Sou uma total inconstância de sentimentos. Não sei bem o que
se passou comigo, mas deixei de me conhecer… Aquela que antes sentia tudo com
todos os poros de uma ponta à outra do corpo, agora perdeu o tato. Deixei de
conseguir manobrar as palavras da mesma forma que antes. Mas, pior de tudo, o
meu coração não é o mesmo – não consigo exteriorizar o que sinto.
Nos últimos tempos fui apedrejada com múltiplas emoções,
todas de carizes diferentes, mas todas com uma força incontrolável. Todas elas
me espetavam o órgão propulsor de um lado a outro sem pudor… Mas nenhuma teve
poder suficiente para me subir pela garganta e sair-me pelos lábios. Quanto às
mais negativas, pelos olhos. E é isso que me preocupa. Antes as lágrimas eram a
minha arma para a tristeza; ao mesmo tempo que elas se despediam dos meus
olhos, a dor ia embora. Agora isso não acontece: e eu sinto um acumular, um
peso morto no lado esquerdo do peito, à espera de rebentar a qualquer momento.
Outra das minhas grandes preocupações é a saudade que sinto
no peito. E agora, posso usar esta frase tão dita tantas e tantas vezes: de um
não sei quê, vinda não sei de onde e que vai durar não sei bem até quando. É a
verdade. Sinto um espaço em branco em mim, mas não sei que forma ele toma para
o poder tapar. E quando nada é capaz de sossegar a saudade, não podemos nada
mais fazer que nos sentarmos na cadeira de baloiço da varanda e esperar, esperar,
esperar… Mas esperar pelo quê? Dúvida pertinente, mas para a qual até tenho
resposta: por o que nunca há-de vir. É que já se passaram meses, e em todo este
tempo nada senti – fui camuflada por uma bolha protetora que me impediu de
sentir. Só que, pelos vistos, esta já está a perder as forças e deixou
escapulir este sentimento que agora me assola de forma incontrolável. Eu
recebo-o com todo o agrado, porque finalmente já me sinto novamente a mesma.
Mas basta de sofrimentos. Se sinto saudade, ao menos que o meu cérebro e, acima
de tudo, o meu coração, consigam perceber o porquê. Falta-me algo.