quarta-feira, 19 de junho de 2013

Nós não somos complicadas




É isto. Depois dizem que as mulheres são complicadas... Nós é que mexemos com a vossa cabeça e vos lançamos feitiços para nos amarem desalmadamente – não. Por muito que não pareça à primeira vista, nós caminhamos pela rua com um falso sorriso para que ninguém se aperceba de que temos o coração congelado, e que esse mesmo está fechado num nó cego que não nos permite viver. Apenas respiramos. Soltamos o fôlego no universo que, para nós, é naqueles tempos a preto e branco e com uma música de fundo deprimente.
Chegamos a casa, abrimos a porta de forma repentina e olhamos em volta: o nosso lar é o único sítio onde nos sentimos plenas e seguras. Ali, não há ninguém que nos consiga atirar outra seta e nos ponha a sangrar. Não literalmente, mas a sangrar no ente, onde dói mais.
Abrimos o frigorífico, mas logo nos apercebemos que não nos apetece comer. Não almejamos sequer viver. Só queremos atirar-nos para o meio dos nossos lençóis e fugir ao que nós próprias sentimos, à nossa vida. Não temos vontade de ligar a televisão para ver o telejornal ou a novela, não temos força para ligar o telemóvel ou abrir um livro e partirmos para outro mundo , onde tudo é melhor. Corremos para a porta do quarto e vemos ali a solução para os nossos problemas – a nossa confidente, portadora de tantos segredos e sonhos, guarda-lágrimas do nosso dia-a-dia. A nossa almofada forrada com o padrão que mais gostamos. Abraçamo-la e contamos o que se passou: hoje ele passou por nós e nem sequer olhou, sendo que o novo vestido que de manhã vestimos com tanto cuidado para não engelhar foi em vão, o cabelo arranjado não serviu de nada e nem o sorriso captou a sua atenção. Mais uma vez, ele preferiu aquela desconhecida que toda a gente conhece a nós. E o mundo desabou. Todos os sonhos não tinham passado disso, sonhos. E as nossas esperanças, levou-as o vento, bem devagar. Preferimos dormir a voltar a sair de casa até recuperar as forças.
Só queremos um aconchego. Um abraço no meio da rua, um beijo no pescoço, um enrolar de uma mecha de cabelo quando estamos sentados à espera do metro. Coisas simples, mas que sejam capazes de encher o coração de forma a que ele quase rebente. Só queremos certezas de um amor que valha a pena, uma palavra, uma mensagem a meio da noite: tudo aquilo que se costuma dizer. É verdade, somos umas românticas constantes e impossíveis de controlar...
Mas é assim que vamos vivendo. No incerto, à espera de um sinal que não aparece, e ansiando uma pista de que, afinal, a vida pode ser mais cor-de-rosa do que inicialmente pensávamos. Só que isso raramente se sucede – e a essas raparigas, o que acontece?
Dissipam-se na sua própria sombra, a escrever romances que não são os seus, e a viver histórias onde não são a personagem principal.

sábado, 1 de junho de 2013

just remembering

Três horas da madrugada. Abro a gaveta para guardar o comando da televisão que raramente utilizo e reparo num objeto que já há muito não via. Está ali, bem escondido, já faz quase dois anos. O momento em que guardei aquela pulseira na gaveta marcou uma nova etapa da minha vida. Até ali, eu tinha vivido só e apenas para ti. Não conseguia amar mais ninguém – a verdade é que, infelizmente, já tinha tentado, e vários danos causei por causa disso; só te via a ti. Os meus dias desenrolavam-se devagar, a passos de bebé... Estavas longe fisicamente, e esse sempre foi o meu maior sofrimento. Mas a partir daquele dia, e até hoje, um oceano separa-nos. Na última vez que te vi, achei que ia morrer: a minha vida ficara ali, naquele lugar espirituoso. Os momentos que considerei mais importantes foram ali enterrados, e lá ficarão.
Sempre achei que nunca conseguiria ultrapassar o que tinha contigo. No meu ente, sentia que não era capaz de amar mais ninguém como te amei a ti (e aqui vai um segredo: não é que não amei mesmo mais ninguém como te amei?). Neste tempo que passou, o sentimento foi perdendo a força. Os nossos navios velejaram para diferentes rumos e, com eles, a nossa ligação. Nada é como antes: o que tínhamos mudou, a nossa vida mudou, nós mudámos. Posso agora dizer com certezas, que agora que olho para aquela pulseira, para tudo o que escrevi para ti durantes anos e anos, e são só lembranças. Recordações de um tempo no meu percurso de vida que me enchiam o coração e quase o faziam rebentar – porque, na realidade, era assim que me fazias sentir. E tenho pena que ainda não tenha conhecido ninguém que, depois deste tempo todo, conseguisse fazer o que tu me fizeste. Foste o meu pilar, mas os ventos levaram-nos para longe um do outro.
Nos dias que correm, já afirmo com avidez que aprendi a viver sem ti. Foi difícil, mas consegui. E se consegui desapegar-me de ti, consigo fazer tudo, inclusive voltar a subir a cumes de montanhas para gritar sobre o sentimento. Um novo, refrescante, e marcante amor. Porque quem somos nós sem amar? Vagabundos. Almas que vagueiam pela Terra sem saber que direção seguir. Zés-ninguém com cara de sonolentos que nada mais anseiam que o belo conforto da sua cama – mas não é tão bom deitar a cabeça e lembrarmo-nos da imagem de alguém a sorrir-nos? Amar tem a capacidade de nos tirar tudo, mas é também esse vocábulo que nos dá sentido à vida.
Três horas e um minuto da madrugada. Fecho a gaveta e vou dormir.