sexta-feira, 16 de maio de 2014

faith

Já não sei bem no que realmente acredito. Acredito em almas gémeas que se cruzam nas estações de comboio sem notarem na existência um do outro, ignorando o pequeno fio de ouro que os une e que se entrelaça em tantos outros. Talvez seja isso que impede as pessoas de se encontrarem umas às outras: há demasiados fios, nós que se entrelaçam e que se desfazem com dificuldade ou quase se partem nessas alturas. Também acredito que os dias solarengos vêm para substituir os cinzentos. Acredito no karma e naquilo que ele nos tem para dar e roubar; a forma como nos engana e ao órgão propulsor, mas como no mais íntimo de nós, achamos que ele se está a enganar a si próprio. Acredito num amor para sempre. Acredito no cliché de sentirmos o mesmo por alguém durante anos e anos, de acharmos piada mesmo aos defeitos e nunca saturarmos das feições da nossa metade. Acredito que não devemos matar gatos pretos (nenhuns, até), nem andar de costas sem fazer uma cruz com o pé no fim.
                Não acredito em pessoas que dizem não amar ninguém, que teimam estar felizes vivendo por si próprias, ainda que eu tenha a certeza que à noite, quando pousam a cabeça na almofada não é na conta do gás por pagar que pensam: o vislumbre de alguém passa-lhes na cabeça. O vizinho do lado, o rapaz com os olhos solitários da caixa do supermercado, o homem das finanças, o desconhecido que lhe deu a vez na fila para o multibanco. Não acredito quando as pessoas dizem que não conseguem. Que não há faísca. Que estão demasiado presas a outro alguém para conseguir amar um próximo. O anterior acenou para a pessoa que está atrás e esqueceu-se que ele está ali, louco por ela, em pedaços porque esta se está a ir embora e se esquece de lhe dizer Adeus. É por isso que já desacreditei em mim própria, mas agora conheço outro caminho. Acredito ainda em coincidências, no destino, e no futuro. Acredito em esperar, mas nunca para sempre. Esperar enquanto a chama está acesa e nada mais podemos fazer se não isso.

terça-feira, 13 de maio de 2014

travelling



É quando achamos que encontramos uma ilha segura para largar a âncora, onde a comida não importa mas sim a forma como os raios de sol batem na cara, que a proa do barco começa desmoronar-se. O Eu construído já há meses, desde a última vez que vira e pisara terra, foi balançando com o mar. Viver neste meu barco, que de início era de vidro mas agora é de ferro, sempre me deu segurança. Mas agora vejo que o ferro nem sempre é indestrutível... Basta carregar-lhe no sítio certo, lançar a bomba na altura certa, que ele se afunda. E com ele, tudo o resto. É como dizem, "morrer na praia" mas, neste caso, antes de chegar a ela. Não foram as marés vivas ou altas, não foram ventos e tempestades... Foi só a proa. Um bocadinho tão pequeno e insignificante, que lhe permitia velejar com a vida, que lha roubou por completo. A minha proa foi-se, outra vez. Mas há sempre maneira de chegar à ilha, basta saber nadar. Havemos de chegar cansados, com o coração a palpitar e quase a querer subir-nos pela garganta, mas chegamos. Porque quando a vontade é superior à força, tudo se alcança.